sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Jesus garantido até final da época

A saída de Jorge Jesus do Benfica é um assunto que ainda não se coloca. Nem o atraso de 10 pontos para o líder, FC Porto; nem a goleada sofrida no Dragão; nem a humilhação em Telavive; nem o inesperado afastamento dos oitavos-de-final da Liga dos Campeões: nada altera para já a decisão de Luís Filipe Vieira em manter à frente da equipa o treinador que, na época passada, conquistou o título de campeão nacional.
Mas se o técnico continua a ser credor de confiança, por outro lado já existe a consciência de que Jesus tem cometido vários erros e que, afinal, “não é infalível”, como revelou a Record fonte do clube da Luz.

O presidente já havia tido uma longa conversa com Jesus para analisar a pesada derrota frente ao FC Porto e as consequências do atraso de 10 pontos na Liga. Logo aí deixou claro um discurso de (muito) maior exigência para o que restava da temporada, garantindo que não iria contentar-se com menos do que o 2.º lugar no campeonato, mas apontando ainda outras metas.

Reunião em breve.

 O treinador ouviu o presidente falar sobre a necessidade de ultrapassar a eliminatória da Taça de Portugal com o Sp. Braga (em jogo que ficou adiado para 12 de dezembro) e, mais ainda, sobre a importância da chegada aos oitavos-de-final da Champions. Como este objetivo caiu por terra de forma estrondosa, na passada quarta-feira, em Israel, está agora marcada para os próximos dias uma nova reunião entre presidente e treinador.

 Luís Filipe Vieira e Rui Costa estão a ter muita dificuldade em digerir a derrota frente ao Hapoel e consequente afastamento da Liga dos Campeões. Por isso irão ser pedidas novas explicações ao treinador. No fundo, e de uma maneira geral, os dirigentes que estão mais próximos da equipa continuam sem entender a quebra de rendimento que o Benfica registou em tão curto espaço de tempo. A administração considerava existirem “sete jogadores nucleares” no plantel da última época e não aceita que “saindo apenas dois se tenha caído a pique, como se tem visto ultimamente”. Para a SAD, Jorge Jesus também não pode ter perdido qualidades de um momento para o outro. Se foi ele o principal obreiro da vitória na última Liga e responsável pelo crescimento de jogadores como Di María ou Fábio Coentrão, o que pode, então, estar a acontecer?

O relacionamento entre treinador e jogadores não fica à margem da análise dos responsáveis encarnados, que consideram mesmo a possibilidade de já existir um “certo cansaço” que dificulta a passagem da mensagem, com naturais reflexos no rendimento global da equipa. De qualquer forma, Vieira não tolera nem irá admitir falta de profissionalismo se, eventualmente, se chegar à conclusão que esse desgaste existe mesmo e é a causa do problema. Caso seja necessário, o presidente baixará até ao balneário para lembrar ao plantel as obrigações a que todos estão sujeitos. Em resumo: há um descontentamento indisfarçável, mas Jesus mantém a confiança dos dirigentes, que vão nas próximas horas exigir ao técnico uma resposta imediata (na qualidade de jogo e nos resultados) e esperar que as percas se fiquem por aqui.

Outras más decisões.

 No início do ano, quando vários jogadores do Benfica surgiam no mercado internacional como alvos prioritários de alguns dos principais clubes europeus, Jesus e Vieira discutiram várias vezes a preparação da época seguinte.

Em relação a dois casos, e por razões diferentes, não havia muito a fazer. As saídas de Di María (para o Real Madrid) e de Ramires (para o Chelsea) eram consideradas inevitáveis e, por isso, treinador e presidente sentaram-se para analisar a razoabilidade de outros negócios.

 Jesus pediu então ao presidente que vendesse o menos possível e Vieira foi sensível à parte desportiva, chegando a recusar na parte final de 2009/10 uma proposta estratosférica do Manchester City por David Luiz. Agora, passados alguns meses, analisando o percurso da equipa e, em especial, o rendimento do internacional brasileiro, já existe a noção de que se perdeu uma grande oportunidade. O número 23 das águias não voltou a atingir o nível exibicional da época passada e já será, inclusivamente, um jogador em acentuada desvalorização. O Benfica sabe que precisa de tomar uma decisão rápida sobre o futuro de David Luiz e já decidiu que não vale a pena adiar o negócio por mais tempo. De resto, o interesse da SAD em partir para a venda do seu jogador mais valioso não se prende, apenas, com a quebra de rendimento. Desde que começou a pairar a hipótese de falhanço na Champions que ficou clara a necessidade de realizar uma operação na reabertura de mercado que pudesse fazer face aos milhões perdidos por aquilo que seria, na altura, a eventual ausência da equipa nos oitavos-de-final da competição. E essa é, desde quarta-feira, a dura realidade que o Benfica terá de enfrentar. Se a administração já não tem grandes dúvidas sobre o erro que foi obrigar David Luiz a permanecer na Luz, também Jorge Jesus já reconhece, hoje, que o melhor teria sido vender mais jogadores após a conquista do título. Não só David...

Mexidas em janeiro.

 A Liga dos Campeões, que era uma das apostas mais sérias para o mandato de Luís Filipe Vieira, está definitivamente perdida esta época e sobre as hipóteses de reentrada na corrida pela revalidação do título existem sérias reservas.

 Resta, portanto, confirmar a entrada na Liga Europa (ainda não é uma certeza) e lutar pelas vitórias na Taça de Portugal e também na Taça da Liga, competição que, de resto, os encarnados já venceram por duas vezes. Mas há compreensíveis receios de que a situação, já estando muito má, ainda possa ficar pior. O Benfica não tenciona sequer equacionar a situação de Jorge Jesus antes do final da temporada, mas com que condições para trabalhar ficaria o treinador se, por exemplo, fosse o Braga a vencer a eliminatória da Taça agendada para o próximo mês? Em qualquer dos casos, existe um dado certo: vai haver reforço do plantel em janeiro, com a entrada de, pelo menos, dois jogadores. Essa decisão é suportada por dois fatores:

haverá dinheiro fresco (com o possível negócio de David Luiz) e existe a consciência de que, afinal, mesmo tendo feito este ano um investimento recorde, o Benfica não tem no plantel o equilíbrio e as soluções de que precisava.

Para além disso, na parte financeira, adivinha-se para os próximos meses uma gritante quebra nas receitas de bilheteira e, na hora de fazer contas, já nem entram apenas as perdas que resultam do fracasso na Liga dos Campeões: é preciso começar a contabilizar, igualmente, a desvalorização no mercado de jogadores como Fábio Coentrão, Cardozo, Javi García ou, especialmente, David Luiz. Tudo isto a juntar à necessidade de rentabilizar, em contraciclo, os altos investimentos feitos este ano em Gaitán, Jara, Airton, Kardec ou Roberto. Algum deles já provou valer o que custou? Este é outro dos desafios que Jorge Jesus está a perder. Com Luís Filipe Vieira muito atento…

fonte: Record

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